Paternalismo na saúde: uma reflexão entre a transparência algorítmica e a não transparência de Hipócrates
A inteligência artificial (IA) tem se mostrado cada vez mais presente no setor da saúde, sendo utilizada para diversas finalidades, como diagnóstico, prognóstico, planejamento terapêutico, monitoramento de pacientes, entre outros.
Desde a Antiguidade, a profissão médica é guiada por princípios éticos que visam proteger os pacientes e garantir sua autonomia. Um dos pilares da medicina moderna é o Juramento de Hipócrates, que contém a frase "primum non nocere" (em latim, "primeiro, não causar dano"), que expressa a ideia de que o médico deve agir no melhor interesse do paciente e evitar prejudicá-lo.
O paternalismo de Hipócrates, portanto, é uma forma de proteger os pacientes da ignorância e do risco de decisões equivocadas. O médico, como profissional capacitado e experiente, é visto como alguém que possui o conhecimento necessário para tomar as melhores decisões em prol do paciente. Nesse sentido, o médico tem a responsabilidade de aconselhar e orientar o paciente, e muitas vezes, tomar decisões em nome dele. Isso pode ser um problema nos dias atuais, especialmente considerando que os dados sobre a saúde do paciente pertencem a ele mesmo e que ele pode tomar decisões importantes sobre seu tratamento. Devido ao paternalismo de Hipócrates, muitos médicos não gostam de compartilhar informações e nem a tomada de decisão com o paciente.
No entanto, assim como o paternalismo algorítmico, o paternalismo de Hipócrates também pode trazer riscos e desafios. Por exemplo, quando o médico impõe suas decisões ao paciente sem levar em consideração suas preferências e desejos, o paciente pode se sentir desrespeitado e desencorajado a participar ativamente de seu tratamento. Além disso, o paternalismo pode reforçar desigualdades sociais e culturais, já que nem todas as pessoas têm acesso à mesma informação e recursos para tomar decisões informadas sobre sua saúde.
Por isso, é importante encontrar um equilíbrio entre o paternalismo e a autonomia do paciente. O médico deve ter em mente que o paciente é o protagonista de sua própria saúde e que suas decisões devem ser respeitadas e levadas em consideração. Ao mesmo tempo, o médico deve oferecer orientação precisa e acessível para que o paciente possa tomar decisões informadas sobre seu tratamento. Como também, o paciente deve trazer dados de sua saúde para os algoritmos e modelos possam trazer resultados personalizados e mais efetivos. Pois, o paciente é o dono da sua saúde.
O paternalismo algorítmico na saúde é uma questão atual e importante, que deve ser abordada com cuidado e atenção. Entretanto, é importante lembrar que o paternalismo médico não é uma novidade, e que a ética médica já reconhece a importância de equilibrar a proteção do paciente com sua autonomia e liberdade de escolha.
O paternalismo algorítmico na saúde é baseado na transparência e na tomada de decisão compartilhada entre médicos e pacientes. Os algoritmos em sua maioria são projetados para ajudar os médicos a tomar decisões informadas, mas as decisões finais são tomadas em conjunto com os pacientes, que são informados sobre as opções disponíveis e seus possíveis resultados.
Essa abordagem pode ser benéfica para pacientes que desejam estar mais envolvidos em suas próprias decisões de saúde e cuidado.
O paternalismo hipocrático e o paternalismo algorítmico na saúde apresentam abordagens diferentes para a tomada de decisão médica. Embora a transparência seja valorizada nos dois casos, é importante reconhecer que ambos os modelos apresentam limitações e o paciente deve tomar as rédeas da sua saúde com seus dados, o uso de aplicativos tecnológicos e dispositivos de saúde personalizados que ajudam futuramente integrar o paciente em uma visão integrada para o médico como também para os algoritmos que usam Big Data.
Nisso, entra uma frente a ser desenvolvida que é a integração de todos os dados do paciente, desde o simples hemograma até os procedimentos mais avançados. O prontuário da vida do paciente é a sua história de saúde, desde a hereditariedade dos seus pais até os exames realizados nos serviços públicos de saúde.
Por fim, no atual momento é fundamental que a abordagem escolhida leve em consideração o respeito aos direitos do paciente, a tomada de decisão compartilhada e o compromisso com a melhoria da qualidade de vida do paciente.